LÍNGUA PORTUGUESA 7ª Semana
Ano/Etapa: 9º Ano – Anos Finais
Componente Curricular: Língua Portuguesa
Habilidades:
(EF69LP48)
I
Prática
de Linguagem: Prática
de leitura do gênero poema explorando os recursos expressivos sonoros apontados
na habilidade.
Aula 1
-
Carlos Drummond de Andrade
Nascimento: 31 de outubro de 1902 Itabira, Minas
Gerais
Morte: 17 de agosto de 1987 (84 anos)
cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro
Nacionalidade: brasileira.
Ocupação: poeta,
contista.
Escola/tradição: Modernismo.
Carlos
Drummond de Andrade (Itabira, 31 de
outubro de 1902 —
Rio de Janeiro, 17 de
agosto de 1987)
foi um poeta, contista e cronista brasileiro
Biografia
Nasceu
em Minas
Gerais, em uma cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra,
Itabira. Posteriormente, foi estudar em Belo
Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no colégio Anchieta. Formado
em farmácia,
com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A
Revista", para divulgar o modernismo no Brasil. Durante a maior parte da vida foi
funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até
seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única
filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.[1]
Além de poesia,
produziu livros infantis, contos e crônicas.
Drummond e o Modernismo Brasileiro
Drummond,
como os modernistas,
proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza
modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta
por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação
do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se
dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais
objetiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Mário de Andrade.
A poesia de Drummond
Estátuas
Dois poetas', na cidade de Porto
Alegre. Em pé, Carlos Drummond de Andrade. Sentado, Mário
Quintana. Drummond tinha um livro de bronze nas mãos, que foi roubado. As
pessoas agora colocam sempre um livro nas mãos do poeta. Na foto, o livro que
está com ele é "Diário de um Ladrão", do Jean Genet.
Quando
se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das
estréias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um
modernista. De fato herda a liberdade lingüística, o verso livre, o metro
livre, as temáticas cotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança
— como Fernando Pessoa ou Jorge
de Lima, Herberto Helder ou Murilo
Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da
História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas
ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi
(1994).
Affonso Romano de Sant'ana costuma
estabelecer que a poesia de Carlos Drummond a partir da dialética "eu x
mundo", desdobrando-se em três atitudes:
§ Eu maior que o mundo — marcada pela
poesia irônica
§ Eu menor que o mundo — marcada pela
poesia social
§ Eu igual ao mundo — abrange a poesia
metafísica
Sobre
a poesia política, algo incipiente até então, deve-se notar o contexto em que
Drummond escreve. A civilização que se forma a partir da Guerra Fria está
fortemente amarrada ao neocapitalismo, à tecnocracia, às ditaduras de toda
sorte, e ressoou dura e secamente no eu artístico do último Drummond, que
volta, com freqüência, à aridez desenganada dos primeiros versos: A
poesia é incomunicável / Fique quieto no seu canto. / Não ame.
No
final da década de 1980, o erotismo ganha espaço na sua poesia até seu último livro.
O
HOMEM; AS VIAGENS
O
homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se
na Terra
lugar
de muita miséria e pouca diversão,
faz um
foguete, uma cápsula, um módulo
toca
para a Lua
desce
cauteloso na Lua
pisa
na Lua
planta
bandeirola na Lua
experimenta
a Lua
coloniza
a Lua
civiliza
a Lua
humaniza
a Lua.
Lua
humanizada: tão igual à Terra.
O
homem chateia-se na Lua.
Vamos
para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas
obedecem, o homem desce em Marte
pisa
em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza
Marte com engenho e arte.
Marte
humanizado, que lugar quadrado.
Vamos
a outra parte?
Claro
— diz o engenho
sofisticado
e dócil.
Vamos
a Vênus.
O
homem põe o pé em Vênus,
vê o
visto — é isto?
idem
idem
idem.
O
homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar
justiça junto com injustiça
repetir
a fossa
repetir
o inquieto
repetitório.
Outros
planetas restam para outras colônias.
O
espaço todo vira Terra-a-terra.
O
homem chega ao Sol ou dá uma volta
só
para tever?
Não-vê
que ele inventa
roupa
insiderável de viver no Sol.
Põe o
pé e:
mas
que chato é o Sol, falso touro
espanhol
domado.
Restam
outros sistemas fora
do
solar a colonizar.
Ao
acabarem todos
só
resta ao homem
(estará
equipado?)
a
dificílima dangerosíssima viagem
de si
a si mesmo:
pôr o
pé no chão
do seu
coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o
homem
descobrindo
em suas próprias
inexploradas
entranhas
a
perene, insuspeitada alegria
de
conviver.
(Carlos Drummond de Andrade. As impurezas do branco.
Rio de Janeiro: José Olympio/MEC, 1973. p. 20-2.)
Assista ao
vídeo sobre o poema: https://www.youtube.com/watch?v=-4vNAeVqifI
Atividade
01. O poema está organizado em partes,
representadas por seis estrofes. Que relação há entre as estrofes e as viagens?
02. Na 1ª estrofe, o eu lírico se refere a
uma viagem que já ocorreu, a viagem à Lua. De acordo com essa estrofe:
a) Que razões teriam levado o homem à Lua?
b) Na sua opinião, essas razões são
verdadeiras? Por quê?
c)
Em
caso negativo, levante hipóteses: Por que então o homem sempre busca novos
astros?
03. No poema em estudo, notam-se algumas
expressões que estabelecem intertextualidade com a obra do poeta português Luís
de Camões. Camões viveu no século XVI e, em seu poema Os lusíadas,
cantou os feitos heróicos dos portugueses, que, um século antes, tinham se
lançado ao mar com suas caravelas e conseguido chegar ao Oriente, desafiando
mares nunca antes navegados. Observe esta estrofe de Os lusíadas:
No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu
sereno
Contra um
bicho da terra tão pequeno?
a) Que expressão empregada nessa estrofe
mantém intertextualidade com o poema de Drummond?
b) A palavra terra tem o mesmo
significado nos dois textos? Justifique.
c)
Drummond
evoca o poema de Camões por haver semelhança entre as experiências humanas atuais
e as do século XVI. Explicite essa semelhança.
04. Na abertura de Os lusíadas,
Camões se propõe a cantar os feitos dos navegantes portugueses, desde que, para
isso, seja provido de inspiração, condição que expressa no verso “se a tanto me
ajudar o engenho e arte”. Drummond confirma a intertextualidade com a
obra de Camões ao empregar a expressão engenho e arte, na 2ª estrofe, e
a palavra engenho, na 3ª estrofe. Observe o emprego da palavra engenho
nessas estrofes. Ela tem o mesmo sentido nos dois contextos? Justifique.
05. Releia este trecho da 3ª estrofe:
“O
homem põe o pé em Vênus, vê o visto — é isto?”
a) A palavra visto é um verbo no
particípio e está substantivada. A que se refere a expressão o visto?
b) Qual é o sentido da expressão é isto,
no contexto em que foi empregada?
06. Na língua portuguesa, há várias palavras
e expressões formadas pela repetição de substantivos, como corpo a corpo,
boca a boca, palmo a palmo.
a) Qual o sentido da expressão palmo a
palmo na frase “O homem percorre o espaço palmo a palmo?
b) Na 5ª estrofe, é empregada a expressão Terra-a-terra,
criada pelo autor. Qual o sentido dessa expressão no contexto?
07. Releia estes versos da 5ª estrofe:
“O
homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever?”
a) A palavra tever é um neologismo
criado pelo poeta a partir de duas outras palavras. Quais são essas palavras e
que sentido tem a palavra tever no contexto?
b) Explique a ironia existente nesses
versos.
c)
Para
dar idéia da frustração que o homem tem ao chegar ao Sol, foi empregada a
metáfora “touro espanhol” para designar esse astro. Explique o sentido da
expressão “falso touro espanhol domado”.
08. Os verbos experimentar, colonizar,
civilizar e humanizar foram empregados na1ª e na 2ª estrofes com
sentido denotativo e, na última estrofe, com sentido conotativo. Que diferença
de sentido há nessas duas situações?
Aula 2
Poesia de Bandeira
Ele foi um dos
poetas nacionais mais admirados, inspiran-do, até hoje, desde novos escritores
a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos
aprofundados de ensaístas. Por vezes inspira escritores não só em razão de sua
temática, mas também devido ao estilo sóbrio de escrever.
Manuel Bandeira
possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas
como João
Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras
de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar
de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas
cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada",
lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares.
Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de
formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e
de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas
ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores,
encontramos composições como o rondó e trovas.
É comum encontrar
poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se
transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas
origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a
participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha
comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
Uma certa
melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que
procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira
sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a
perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua
obra.
A imagem de bom
homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua
vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção
terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal
e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas
apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados
pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre
com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do
carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a
dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Ritmo
Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou
embora para Pasárgada", onde é questão a evocação sonhadora de um país
imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é
satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus
espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do
alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e
tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da
infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades
brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o
erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e
platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus
poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do
desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto,
o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado
de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das
Noites Úmidas.
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encyclopedia
Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!
O que custou arranjar aquele balãozinho
de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira
Um que trabalha na composição do jornal
e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com
amor, compôs
[os gomos oblongos…
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal
de arame.
Ei-lo agora que sobe, — pequena coisa
tocante na
[escuridão do céu.
Levou
tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo e mudava de cor.
A molecada da Rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!
Subitamente, porém, entesou, enfunou-se
e
[arrancou das mãos que o tenteavam.
E foi subindo…
para longe…
serenamente…
Como se o enchesse o soprinho tísico
[do José.
Cai cai balão!
A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.
Cai cai balão!
Um senhor advertiu que balões são proibidos
pelas posturas municipais.
Ele foi subindo…
muito serenamente…
para muito longe…
Não caiu na Rua do Sabão.
Caiu muito longe… Caiu no mar, — nas
águas puras do mar alto.
(Manuel
Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p.
195-6.)
Atividade
01. O início do poema refere-se a uma
cantiga de nosso folclore.
a) Em que época do ano e em que tipo de
festividade ela é cantada?
b) Que fatos citados no poema se relacionam
com essa festa?
02. José arranjou o balãozinho de papel com
dificuldade.
Qual
é a condição social do menino? Justifique sua resposta.
03. Enquanto o balão vai, aos poucos,
ganhando altura e subindo, a molecada muda de atitude gradativamente.
a) Como a molecada reage enquanto o balão
ganhava fôlego?
b) E quando ele começou a subir?
04. A tuberculose é uma doença contagiosa,
causada pelo bacilo de Koch, e se localiza freqüentemente nos pulmões. Até o
início do século XX não tinha cura. Comparando a tuberculose com a Aids, doença
que atualmente também é contagiosa e incurável, como você imagina que as
pessoas agiam naquela época em relação a um tuberculoso?
05. No poema, podemos comparar José com o
balãozinho.
a) Que semelhanças há entre o comportamento
do balão tentando subir e o que José apresentava em razão da sua condição
física de menino tuberculoso?
b) Ao agredirem o balão, quem na verdade os
meninos pretendiam agredir? Justifique sua resposta
06. Apesar da maldade dos moleques, o
balãozinho subiu muito serenamente e caiu muito longe, “nas águas puras do mar
alto”.
a) Comparando novamente José com o balão,
qual seria, na sua opinião, o sonho do menino que o balãozinho conseguiu
realizar?
b) Considerando que José estava doente,
infectado pela tuberculose, o que podem representar as “águas puras” do mar
alto?
■A
LINGUAGEM DO TEXTO
07. “Na Rua do Sabão” é um poema, um
tipo de texto geralmente escrito em versos. Verso é cada linha do
poema.
Os versos geralmente são sonoros,
melódicos. Leia em voz alta este trecho de um verso do poema:
“cortou-o com amor, compôs os gomos
oblongos…”
Nesse trecho, destaca-se o som de uma
vogal. Qual é essa vogal?
08. Observe a disposição visual destes
versos:
“A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.”
O
poeta poderia ter empregado os substantivos assobios, apupos e pedradas
depois de atiradeiras, ligando-os com vírgulas. Mas preferiu deixar
cada uma dessas palavras numa linha, de modo que cada uma forma um verso. Que
diferença de sentido essa disposição visual provoca?
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