22 junho, 2020

LÍNGUA PORTUGUESA - 7ª SEMANA - PROF: LEONARDO - 9º ANOS


LÍNGUA PORTUGUESA 7ª Semana
Ano/Etapa: 9º Ano – Anos Finais
Componente Curricular: Língua Portuguesa
Habilidades: (EF69LP48) I
Prática de Linguagem: Prática de leitura do gênero poema explorando os recursos expressivos sonoros apontados na habilidade.


Aula 1
- Carlos Drummond de Andrade



Nacionalidade: brasileira.
Ocupação: poeta, contista.
Escola/tradição: Modernismo.



Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro

Biografia

Nasceu em Minas Gerais, em uma cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira. Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no colégio Anchieta. Formado em farmácia, com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil. Durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.[1] Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

Drummond e o Modernismo Brasileiro

Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Mário de Andrade.

A poesia de Drummond

Estátuas Dois poetas', na cidade de Porto Alegre. Em pé, Carlos Drummond de Andrade. Sentado, Mário Quintana. Drummond tinha um livro de bronze nas mãos, que foi roubado. As pessoas agora colocam sempre um livro nas mãos do poeta. Na foto, o livro que está com ele é "Diário de um Ladrão", do Jean Genet.

Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estréias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato herda a liberdade lingüística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994).
Affonso Romano de Sant'ana costuma estabelecer que a poesia de Carlos Drummond a partir da dialética "eu x mundo", desdobrando-se em três atitudes:

§ Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica
§ Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social
§ Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica
Sobre a poesia política, algo incipiente até então, deve-se notar o contexto em que Drummond escreve. A civilização que se forma a partir da Guerra Fria está fortemente amarrada ao neocapitalismo, à tecnocracia, às ditaduras de toda sorte, e ressoou dura e secamente no eu artístico do último Drummond, que volta, com freqüência, à aridez desenganada dos primeiros versos: A poesia é incomunicável / Fique quieto no seu canto. / Não ame.
No final da década de 1980, o erotismo ganha espaço na sua poesia até seu último livro.

O HOMEM; AS VIAGENS


O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias
inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de conviver.

(Carlos Drummond de Andrade. As impurezas do branco.
Rio de Janeiro: José Olympio/MEC, 1973. p. 20-2.)


Assista ao vídeo sobre o poema: https://www.youtube.com/watch?v=-4vNAeVqifI

Atividade

01.   O poema está organizado em partes, representadas por seis estrofes. Que relação há entre as estrofes e as viagens?

02. Na 1ª estrofe, o eu lírico se refere a uma viagem que já ocorreu, a viagem à Lua. De acordo com essa estrofe:

a)  Que razões teriam levado o homem à Lua?
b)  Na sua opinião, essas razões são verdadeiras? Por quê?
c)   Em caso negativo, levante hipóteses: Por que então o homem sempre busca novos astros?

03. No poema em estudo, notam-se algumas expressões que estabelecem intertextualidade com a obra do poeta português Luís de Camões. Camões viveu no século XVI e, em seu poema Os lusíadas, cantou os feitos heróicos dos portugueses, que, um século antes, tinham se lançado ao mar com suas caravelas e conseguido chegar ao Oriente, desafiando mares nunca antes navegados. Observe esta estrofe de Os lusíadas:


No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

a)  Que expressão empregada nessa estrofe mantém intertextualidade com o poema de Drummond?
b)  A palavra terra tem o mesmo significado nos dois textos? Justifique.
c)   Drummond evoca o poema de Camões por haver semelhança entre as experiências humanas atuais e as do século XVI. Explicite essa semelhança.


04. Na abertura de Os lusíadas, Camões se propõe a cantar os feitos dos navegantes portugueses, desde que, para isso, seja provido de inspiração, condição que expressa no verso “se a tanto me ajudar o engenho e arte”. Drummond confirma a intertextualidade com a obra de Camões ao empregar a expressão engenho e arte, na 2ª estrofe, e a palavra engenho, na 3ª estrofe. Observe o emprego da palavra engenho nessas estrofes. Ela tem o mesmo sentido nos dois contextos? Justifique.




05. Releia este trecho da 3ª estrofe:

“O homem põe o pé em Vênus, vê o visto — é isto?”

a)  A palavra visto é um verbo no particípio e está substantivada. A que se refere a expressão o visto?
b)  Qual é o sentido da expressão é isto, no contexto em que foi empregada?

06. Na língua portuguesa, há várias palavras e expressões formadas pela repetição de substantivos, como corpo a corpo, boca a boca, palmo a palmo.

a)  Qual o sentido da expressão palmo a palmo na frase “O homem percorre o espaço palmo a palmo?

b)  Na 5ª estrofe, é empregada a expressão Terra-a-terra, criada pelo autor. Qual o sentido dessa expressão no contexto?

07. Releia estes versos da 5ª estrofe:

“O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever?”

a)  A palavra tever é um neologismo criado pelo poeta a partir de duas outras palavras. Quais são essas palavras e que sentido tem a palavra tever no contexto?
b)  Explique a ironia existente nesses versos.
c)   Para dar idéia da frustração que o homem tem ao chegar ao Sol, foi empregada a metáfora “touro espanhol” para designar esse astro. Explique o sentido da expressão “falso touro espanhol domado”.

08. Os verbos experimentar, colonizar, civilizar e humanizar foram empregados na1ª e na 2ª estrofes com sentido denotativo e, na última estrofe, com sentido conotativo. Que diferença de sentido há nessas duas situações?


Aula 2

Poesia de Bandeira

Ele foi um dos poetas nacionais mais admirados, inspiran-do, até hoje, desde novos escritores a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaístas. Por vezes inspira escritores não só em razão de sua temática, mas também devido ao estilo sóbrio de escrever.
Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
É comum encontrar poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou embora para Pasárgada", onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das Noites Úmidas.
From Wikipedia, the free encyclopedia




Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!

O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs
[os gomos oblongos…
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.

Ei-lo agora que sobe, — pequena coisa tocante na
[escuridão do céu.

Levou tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo e mudava de cor.

A molecada da Rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!

Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e
[arrancou das mãos que o tenteavam.

E foi subindo…
para longe…
serenamente…
Como se o enchesse o soprinho tísico
[do José.
Cai cai balão!
A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.
Cai cai balão!

Um senhor advertiu que balões são proibidos pelas posturas municipais.

Ele foi subindo…
muito serenamente…
para muito longe…
Não caiu na Rua do Sabão.
Caiu muito longe… Caiu no mar, — nas águas puras do mar alto.
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 195-6.)
Atividade

01. O início do poema refere-se a uma cantiga de nosso folclore.
a)  Em que época do ano e em que tipo de festividade ela é cantada?
b)  Que fatos citados no poema se relacionam com essa festa?

02. José arranjou o balãozinho de papel com dificuldade.

Qual é a condição social do menino? Justifique sua resposta.

03. Enquanto o balão vai, aos poucos, ganhando altura e subindo, a molecada muda de atitude gradativamente.
a)  Como a molecada reage enquanto o balão ganhava fôlego?
b)  E quando ele começou a subir?

04. A tuberculose é uma doença contagiosa, causada pelo bacilo de Koch, e se localiza freqüentemente nos pulmões. Até o início do século XX não tinha cura. Comparando a tuberculose com a Aids, doença que atualmente também é contagiosa e incurável, como você imagina que as pessoas agiam naquela época em relação a um tuberculoso?

05. No poema, podemos comparar José com o balãozinho.
a)  Que semelhanças há entre o comportamento do balão tentando subir e o que José apresentava em razão da sua condição física de menino tuberculoso?
b)  Ao agredirem o balão, quem na verdade os meninos pretendiam agredir? Justifique sua resposta

06. Apesar da maldade dos moleques, o balãozinho subiu muito serenamente e caiu muito longe, “nas águas puras do mar alto”.
a)  Comparando novamente José com o balão, qual seria, na sua opinião, o sonho do menino que o balãozinho conseguiu realizar?
b)  Considerando que José estava doente, infectado pela tuberculose, o que podem representar as “águas puras” do mar alto?

A LINGUAGEM DO TEXTO

07. “Na Rua do Sabão” é um poema, um tipo de texto geralmente escrito em versos. Verso é cada linha do poema.
Os versos geralmente são sonoros, melódicos. Leia em voz alta este trecho de um verso do poema:

“cortou-o com amor, compôs os gomos oblongos…”

Nesse trecho, destaca-se o som de uma vogal. Qual é essa vogal?

08. Observe a disposição visual destes versos:

“A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.”

O poeta poderia ter empregado os substantivos assobios, apupos e pedradas depois de atiradeiras, ligando-os com vírgulas. Mas preferiu deixar cada uma dessas palavras numa linha, de modo que cada uma forma um verso. Que diferença de sentido essa disposição visual provoca?


Nenhum comentário:

Postar um comentário